Parintins (AM)- O mural “Retomada Viva” é a mais nova obra do artista visual manauara André Hullk, realizada em maio, no município de Parintins, no interior do Amazonas. Com 1,90 metros de altura por 52 metros de comprimento, a composição fomenta a resistência cultural e política na região, com referências ao tema de 2025 do Boi Caprichoso.
A realização é do projeto Galeria Arte Cidade, do Governo do Estado do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa (SEC), o mural ganha ainda mais potência por nascer do conceito de artivismo — termo que une arte e ativismo em prol de transformações socioambientais.
A obra, que pode ser visitada na rua Gomes de Castro, número 1, no Centro de Parintins, foi feita em alusão ao boi azul, principalmente por estar nas proximidades do Curral Zeca Xibelão. Em mais de dez dias de execução, Hullk contou com a colaboração da artista indígena Kamy Wará e do ativista e ilustrador Arthur Lopes, além de produção geral da Amazônia Arts.
Realizado desde 2022, o projeto Galeria Cidade Aberta já entregou 49 murais, com a participação de 300 artistas. Neste ano, pela primeira vez, manauaras foram incluídos na imersão do universo parintinense. Além de Hullk, Lobão e Raiz também participaram da ação, com promoção de intercâmbios culturais e criação de murais em pontos estratégicos da cidade para celebrar temas da cultura amazônida, além de fazer referência aos bois Garantido e Caprichoso.
No período de execução, Hullk também atuou como arte-educador na imersão artística “Tinturas da Terra”, com a Escolinha do Boi Caprichoso, que incentivou o conhecimento de pigmentos naturais, como a argila, para a criação de obras com foco no conhecimento ancestral.
Arte inspirada em vivências e resistência
O “Retomada Viva” nasce do engajamento de André Hullk com as lutas dos povos originários, suas viagens e imersões culturais, além de experiências na própria cidade de Parintins. As frases que estampam o mural, como: “Brasil é terra indígena”, “Demarcação já!” e “É tempo de retomada”, tema do Boi Caprichoso deste ano, reforçam que a arte possui caráter político, que vai além da contemplação.
A abordagem de Hullk reforça que seu objetivo é ocupar espaços com arte visual urbana que por meio da beleza, aborda as lutas dos povos da floresta e da Amazônia urbana, com temáticas emergentes.
“Uso as paredes como uma forma de protesto, além de vincular às minhas memórias de vivências em diversos territórios que me marcaram. Como artista amazônida, me sinto no papel de usar a arte também para pressionar, então o mural não é apenas uma celebração a mais um ano de festival, é uma forma de lembrar do meu papel enquanto artivista e uma pessoa fascinada pelo próprio Festival de Parintins”. Conclui Hullk.
Repercussão nacional antes mesmo do festival
O mural de Hullk ganhou destaque em um dos principais canais de viagem do país. Os criadores de conteúdo Michele e Renan, do canal do YouTube, Mundo Sem Fim, visitaram a cidade, em maio, para gravar o episódio “A cidade do Brasil onde tudo é azul e vermelho — Parintins”, no qual caminham em frente ao mural.
“É muito interessante”, comentou o casal ao mostrar a quantidade de elementos representativos na obra.
