BRASIL (BR)- O funk brasileiro, que há décadas ressoava nas comunidades, atravessou barreiras e agora ecoa em palcos internacionais, como o da “Cowboy Carter Tour”. Com uma trajetória repleta de desafios e conquistas, esse gênero musical se firmou como uma força cultural que atravessa fronteiras, unindo ritmos e estilos em uma celebração de diversidade.
Desde os tempos do Furacão 2000, que lançou ao estrelato artistas como Anitta e Ludmilla, o funk evoluiu e se diversificou. Os bailes de favela do Rio de Janeiro sempre atraíram os olhares de jogadores de futebol, artistas e até mesmo foram temas de produções cinematográficas.
A Zona Sul de São Paulo, tem sido tomada por um gênero chamado “Funk Bruxaria” que é caracterizado por uma sonoridade agressiva, com sons agudos e distorções, inclusive o mesmo ganhou nota maior que a própria Taylor Swift pelo Pitchfork com o álbum “Pânico no Submundo” do artista DJ K.

Os bailes funks tornaram-se verdadeiros fenômenos, atraindo públicos de diversas classes sociais e transformando-se em espaços de resistência e expressão. Hoje, o cenário é ainda mais vibrante, com nomes como Dennis DJ, Gloria Groove, POCAH e MC Kevin o Chris levando o som do funk a novos patamares.

O reconhecimento do funk não se limita às fronteiras do Brasil. Artistas internacionais como Karol G, The Weeknd, Bruno Mars e Beyoncé têm se unido a esse gênero que, por muito tempo, foi marginalizado e alvo de críticas. A inclusão do funk em seus repertórios é uma prova do seu apelo global e da sua capacidade de se reinventar.
Os bpms marcantes e os versos contagiantes do funk agora integram parte dos desfiles de grifes luxuosas e renomadas, como: Louis Vuitton, Mugler, Jacquemus e Versace, mostrando que a moda e a música estão mais interligadas do que nunca.

No meio dessa revolução, tivemos a oportunidade de entrevistar o DJ Mimo Prod, que recentemente viu sua música se tornar o centro das atenções após o show de abertura da turnê “Cowboy Carter” da cantora Beyoncé no SoFi Stadium. Confira:
Fale um pouco sobre você e como foi descobrir que uma das suas músicas foi tocada durante o show de abertura da Beyoncé, turnê essa que é sobre um álbum que ganhou o AOTY no Grammy e o que esse momento representou na sua trajetória como produtor musical?
Na verdade eu me chamo Murilo, tenho 32 anos, e eu já trabalho esporadicamente há cerca de doze ou treze anos com produção musical. A questão da descoberta que é uma incógnita porque foi muito repentino. Só depois de um tempo que eu fui assimilando o que tava acontecendo, pois recebi muitas menções dizendo: “Olha aí ó Beyoncé usou sua música”. Mas, ainda fica um pontinho atrás da orelha pois esse vocal que eu utilizei ele é um vocal que eu paguei em um determinado site para produtores e então eu não sei se realmente foi minha música ou se é uma mera coincidência, mas estou confiante e tudo indica que é sim minha música! A alegria foi tamanha, pois uma artista das dimensões da Beyoncé? É fora de cogitação! Eu fiquei praticamente igual aconteceu com um artista ano passado que teve a música utilizada pela Rihanna no Superbowl.
Você tem como base na sua carreira o trabalho na periferia — como esse contexto influenciou seu som, e como foi ver seu trabalho ganhando o mundo, chegando a um palco tão grandioso?
Desde sempre eu atuo na periferia, pois eu moro aqui né? Então, isso impacta bastante, porque eu parti de um segmento até chegar na produção. Eu iniciei minha carreira comprando um Sumper, que na verdade antes disso, eu tinha apenas um tecladinho pra reproduzir os remixes, aí foi surgindo contratos, shows e festas aqui na quebrada mesmo. Então, todo meu trampo começou nos entornos desse tempo, e hoje isso significa muito pra mim.
Quais são os principais desafios que você enfrentou no começo da carreira e o que você diria hoje para jovens produtores que, como você, estão começando de forma independente ?
O funk pra mim nunca foi uma renda principal, eu sempre trabalhei registrado, porque o mercado do funk é muito volátil então não dá para você focar naquilo sempre esperando o resultado ou se manter daquilo, pelo menos no meu patamar onde eu não estava atingindo o sucesso imediato. E aproveitando esse momento, nós aceitamos e abraçamos esse hype, pois é assim que a gente se estabiliza após um viral, não é mesmo? Pois Deus me deu um limão, logo então eu vou fazer uma limonada, correto? Então, a gente sempre deve ter um plano B, ante de cair de cabeça na carreira.
A representatividade

O funk, portanto, não é apenas um estilo musical; é um movimento cultural que representa a voz de muitos. A jornada do funk brasileiro é um testemunho de resiliência e talento, e sua presença nos palcos do mundo mostra que, independentemente das barreiras, a música é uma linguagem universal que conecta pessoas e culturas.
À medida que o funk continua a conquistar atenção ao redor do mundo, é essencial celebrar esse “abraço global” e reconhecer os artistas que, com sua paixão e criatividade, transformaram o ritmo em um verdadeiro patrimônio cultural. A era do funk internacional começou, e estamos apenas testemunhando o início de seu impacto.