Gaza (PLT)- Um relatório da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) revela níveis alarmantes de violência contra civis palestinos em locais de distribuição de alimentos administrados pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF). O documento, intitulado “Não é ajuda, é um massacre orquestrado”, pede o fim imediato da atuação da GHF e a retomada da coordenação humanitária pela ONU.
Entre 7 de junho e 24 de julho, as clínicas de Al-Mawasi e Al-Attar, no sul de Gaza, atenderam 1.380 vítimas, incluindo 28 mortos. Entre os feridos, 71 eram crianças, sendo 25 menores de 15 anos. Um menino de 12 anos foi baleado no abdômen, e uma menina de 8 anos, no peito.
“Crianças baleadas enquanto tentavam pegar comida. Multidões inteiras mortas a tiros”, relata Raquel Ayora, diretora-geral da MSF.
Lesões analisadas mostram padrões precisos: 11% dos ferimentos foram na cabeça e pescoço, e 19% no tórax, abdômen e costas, indicando ataques deliberados. Pacientes também sofrem com tumultos, asfixia e roubos após receberem comida. Um menino de 5 anos morreu com traumatismo craniano, e uma mulher, por sufocamento. A MSF criou até uma nova sigla: “BBO” (*Beaten By Others*), para casos de agressões e saques.
GHF: “Armadilha mortal” sob controle militar
A GHF assumiu a distribuição de alimentos após Israel desmantelar a operação da ONU em maio. Seus postos ficam em áreas controladas por forças israelenses e seguranças privados norte-americanos. A MSF acusa a fundação de ser cúmplice da política de fome em Gaza e exige que EUA e outros países cortem apoio financeiro. “É um esquema que institucionaliza a crueldade”, afirma Ayora.
Mesmo após a divulgação do relatório, a violência persiste. Entre 27 de julho e 2 de agosto, 186 pessoas foram atendidas com ferimentos por tiros ou facadas; duas morreram. Em 3 de agosto, três novos casos chegaram às clínicas, um com tiro no pescoço e dois na cabeça.
“Assassinato de crianças só pode ser intencional”, diz Aitor Zabalgogeazkoa, coordenador da MSF em Gaza, criticando a inação global.
A MSF reforça o apelo pelo fim imediato da GHF e por intervenção internacional para proteger civis em Gaza.